terça-feira, 21 de abril de 2009

ADELINO É CONDENADO E ACABA PRESO APÓS JURI POPULAR

Ele foi considerado culpado como mandante de um duplo homicídio ocorrido em 2001 na cidade de Mariluz

Cruzeiro do Oeste/Osmar Nunes

Acusado de ser o mandante de um duplo homicídio ocorrido em 2001 na cidade de Mariluz, o padre Adelino Gonçalves foi condenado a 18 anos e nove meses de reclusão e ainda teve a prisão preventiva decretada pela juíza de Direito, Josiane Pavelski Borges Fonseca durante a leitura da sentença às 22h30 desta quinta-feira no fórum da comarca de Cruzeiro do Oeste. O padre foi algemado pela Polícia Militar e saiu do tribunal do júri direto para a prisão.
O advogado Miguel Nicolau Junior, que fez a defesa do réu, disse que ainda nesta sexta-feira pretende entrar com pedido de hábeas corpus no Tribunal de Justiça do Paraná para que o padre responda ao processo em liberdade, já que a defesa vai recorrer da condenação. Adelino continua padre na região de Guarapuava, mas está em licença para tratamento médico (depressão).
Pe Adelino foi considerado pelos jurados mandante no duplo homicídio que vitimou o vice-prefeito de Mariluz, Aires Domingues e o presidente do PPS local, na época, Carlos Alberto de Carvalho, o Carlinhos. O crime aconteceu na noite do dia 28 de fevereiro de 2001. Na época o padre também era prefeito da cidade. As vítimas participavam de uma reunião política naquela Quarta-Feira de Cinzas quando foram surpreendidas por volta das 20h30 por um pistoleiro que chegou atirando.
Domingues foi quem teria aberto a porta e acabou sendo atingido primeiro. Ele morreu no local. Carlinhos, levou vários tiros tentando fechar a porta e ainda ficou alguns dias internado, mas não resistiu. Porém, antes de morrer ainda prestou depoimento à polícia. O teor da conversa com a polícia foi gravado e o texto lido ontem durante o julgamento. Quando foi indagado pelo policial sobre a autoria do atentado disse e repetiu: ?foi o padre sem dúvida?. Na noite dos crimes, Adelino estava em viagem para Santa Catarina e quando voltou a Mariluz, alguns dias depois, enfrentou protesto violento. Depois acabou preso e ficou quase seis meses atrás das grades em Curitiba. Neste período, o mandato de prefeito foi cassado pela Câmara de Vereadores e assumiu o cargo o cargo de prefeito, o presidente da Câmara na época, Benedito Oscar dos Santos, que era adversário do padre. Em nova eleição, a comunidade elegeu Cido Pinheiro que ficou no cargo até o ano passado.
A esposa de Domingues, dona Geni, e outros familiares das duas vítimas exibiram as fotos deles durante o júri. Dona Geni não depôs, mas disse que queria falar. Ela assegura que antes de morrer, o marido disse repetidas vezes que sofria ameaças de morte feitas pelo padre. Apenas o motivo para os crimes é que ainda deixam dúvidas. O advogado da família de Aires, Juarez dos Santos Junior, afirmou não ter dúvida de que o padre era o principal interessado nos crimes. Ele, assim com a família, entendeu que a pena ficou de bom tamanho.
A suspeita
No processo consta que Carlinhos fez gravações de conversas e reunira material acusando o padre de abuso sexual contra menores em Mariluz. Ele e Aires também estariam rompendo a aliança feita com o padre para a eleição de 2000 porque, ao ser eleito, o prefeito preferiu montar uma equipe com pessoas de outras cidades. Temendo ser denunciado, o padre teria articulado o atentado.
No depoimento de ontem à justiça, o padre negou com veemência as acusações e disse que foi vítima de uma ?tramóia política?. Ele afirma que não sabe quem mandou matar a dupla e reafirma sua inocência.
Outros acusados
Conforme a investigação apurou, quem atirou nas vítimas foi o ex-policial militar José Lucas Mendes. Ele chegou a confessar os crimes e atribuiu o mando ao padre quando falou com a polícia. Mas em juízo mudou o depoimento e inocentou o padre. Mendes morreu na cadeia em Campo Mourão antes de ser julgado.
Os dois funcionários de confiança da Prefeitura de Mariluz na época, Élcio Farias e Alexandro Nascimento, teriam pegado dinheiro do padre para ir a Maringá comprar o carro usado pelo pistoleiro na noite do crime. Farias foi condenado a 10 anos de prisão, cumpriu dois e meio em regime fechado e outros dois e meios em regime semi-aberto. Nascimento foi o único absolvido no processo, mas acabou morto no carro em Campo Mourão.

O JULGAMENTO
O júri popular de ontem começou por volta das 8h30 e só terminou às 22h30. Apesar da repercussão até internacional que o fato ganhou em 2001 nos dias próximos ao fato, inclusive com protesto da população pelas ruas, o clima era de um julgamento comum ontem no fórum da sede da comarca em Cruzeiro do Oeste. Uma média de 30 pessoas permaneceu o tempo todo no plenário, entre elas, vários familiares e amigos próximos das vítimas. Na acusação atuou a promotora Nadir Emília de Melo. Ela entendeu a pena aplicada ao réu ficou de bom tamanho e não pretende recorrer da decisão da juíza Josiane.
Padre Adelino permaneceu o tempo todo com o olhar fixo para a frente. Só se levantou para ir ao banheiro e nos intervalos para lanche. Somente após ouvir a sentença falou com a imprensa e disse que se sentia surpreso com a prisão preventiva. ?Vamos recorrer da decisão porque sou inocente?. Ele afirmou ainda que está sendo vítima de uma armação política criada em Mariluz. Após poucas palavras, ele foi algemado pelos policiais militares e saiu pela porta dos fundos.
O advogado dele permaneceu no plenário tentando encontrar explicação para a prisão do réu. ?Isso é contra o princípio constitucional?. Ele não concordou com a tese da juíza que decretou a prisão porque o réu mora hoje em outra comarca (Guarapuava) e poderia fugir às intimações. O outro agravante relatado pela juíza, após a condenação feita pelos jurados, é que o padre tem antecedentes criminais porque já foi condenado num processo que o acusou de corrupção de menor. Nesse fato, ele cumpriu pena alternativa.
Também pesou na ampliação da pena, o fato de o caso ter ganhado grande comoção social, segundo a juíza, com reflexos até os dias de hoje.
O processo que fez parte do julgamento de 17 de abril de 2009 tem 10 volumes e 2.695 páginas.

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